sábado, 27 de outubro de 2007

TRANSMISSÃO DE NOTÍCIAS...CONSIDERANDO A FAMÍLIA


Numa Unidade de Cuidados Intensivos, a forma como se aborda o familiar terá que ser encarada como mais uma estratégia a utilizar no "combate" à situação crítica que motivou o internamento. O envolvimento da família/pessoa significativa no processo de recuperação, não deverá ser descurado até porque estes poderão ser um veículo motivador da recuperação tanto para o doente em si como para toda a equipa multidisciplinar. Acho ser importante para o profissional sentir que está trabalhar acreditando que está dando o seu melhor para que aqueles filhos continuem com o seu pai ou sua mãe, para que aquela esposa não fique sem marido ou para que aqule marido não fique sem esposa. Acreditando que aquela pessoa tem ainda pela frente vida boa para viver.
Enfim todos estes aspectos são importantes a considerar na consciencialização/sensibilização dos profissionais da importancia que uma informação virada para inclusão da família em todo este processo de recuperação.

No meio de tanto recurso técnico e tecnológico a relação terá que ser considerada pelos enfermeiros que exercem neste ambiente e nunca posta de parte.

Numa UCI somos abordados sob duas formas no sentido de prestar informações: telefone e pessoalmente. Tanto por uma via ou por outra temos que informar, se bem que encaradas de formas bem diferentes e com níveis diferentes de informação.

Por via telefónica temos que considerar que não vemos quem está do outro lado, poderá ser uma pessoa diferente daquela que diz ser, poderá ser um jornalista na procura de informação numa situação mediática. Será necessário indagar sobre quem está do outro lado se é família ou não, prestar informação mínima e encaminhar para mais informação na hora da visita.

Pessoalmente temos que acolher a família de forma calorosa, apresentarmo-nos mostrando disponibilidade e informando do cenário que irá encontrar (ventilador, tubos cateteres, monitores, alarmes, etc.), no caso de ser uma primeira vez; responder a questões que sejam colocadas de forma segura de modo a não contribuir para a ansiedade daquela família, encaminhar para outros tecnicos quando necessário e se solicitado. Ter em conta que o excesso de informação poderá ser prejudicial, devendo-se evitar pormenores técnicos.

É de referir que seria importante que os serviços estivessem munidos de um guia de procedimentos em relação á comunicação de notícias, no qual estivesem contemplados contextos diferentes de prestação de notícias: Notícia de rotina; Notícia para doente em situação crítica; Notícia para doente em morte eminente (onde começa-se a pensar em preparar a família para a morte e proporcionando inclusivamente a presença do familiar na hora da morte). Penso serem estes três contextos os mais frequentes em Cuidados Intensivos sendo fulcral que toda a equipa proceda da mesma forma.

Procurando que a família seja fortalecida, dando-lhe informação e utilizando a mesma como parceiro a quem podemos recorrer para ajudar na recuperação dos nossos doentes, estamos sem dúvida perante um desafio que se coloca aos serviços, a inclusão da família no processo de recuperação.



segunda-feira, 8 de outubro de 2007

POLIVALENCIA DE FUNÇÕES

Trabalhar numa UCI implica por parte dos seus profissionais todo um vasto conjunto de conhecimentos que abrangem as mais diversas áreas no que toca a assistir a pessoa internada nesta unidade ao mais alto nível.



Começando de "cima para baixo" e a nível do Sistema Nervoso, os enfermeiros terão de realizar uma correcta avaliação neurológica: Apreciação de pupilas, apreciação da força muscular e resposta motora em função do estímulo verbal, saber preencher e interpretar escala de Glasgow, despiste de sinais e sintomas de edema cerebral, choque medular, parésias e parestesias...etc...



A nível do Sistema Cardio-Respiratório e Circulatório, será importante importante a interpretação correcta da auscultação pulmonar, traçados de ECG, agir correctamente no accionar da emergencia aquando da presença de traçados críticos ou potencialmente críticos; manipulação correcta de drogas de suporte vital, entender a sua acção a nível cardiovascular, diluições; preparação de material e apoio em técnicas invasivas: de introdução de cateteres centrais, drenos torácicos, traqueostomias, colocação de linhas arteriais e PICCOs bem como noutras tecnicas não aqui referidas; ser capaz de despistar sinais clínicos indicadores de complicações cardiovasculares e adoptar medidas acertadas em função destes.

A nível do Sistema Locomotor é preciso ter em conta a prevenção das complicações resultantes da imobilidade, por isso o enfermeiro terá que estar atento e ciente das medidas a implementar para prevenção das complicações. Terão que haver medidas programadas para problemas ou risco de problemas, levantadas quer pelo enfermeiro de Cuidados Gerais quer pelo Enfermeiro Especialista de Reabilitação.

No Sistema Gastro Intestinal, deveremos considerar a questão do tipo de dieta a implementar e a eliminação. Numa UCI um doente poderá ser alimentado por alimentação entérica contínua ou por bólus e por alimentação parentérica. O Enfermeiro terá que desenvolver conhecimento nestas áreas de modo a que possa prevenir situações secundárias e decorrentes do tipo de dieta escolhido.
Ainda a este nível e em relação à eliminação, quer vesical quer intestinal, o enfermeiro numa UCI deverá dar muita importancia a estes dois aspectos por serem dados muito importantes que poderão reflectir o estado hidroelectolítico bem como o equilíbrio hemodinamico do doente.

A nível relacional, o enfermeiro que trabalha nestas unidades deverá pensar que tem um longo caminho a percorrer nesta área. Engana-se se pensar que doentes sedados e curarizados não necessitam de comunicação e de afectos...redondamente enganados.
Necessitam e muito, é importante haver por parte dos cuidadores uma atitude positiva no relacionamento com os mesmos, muito cuidado com comentários porque o nosso cérebro é uma inesgotável "caixa negra" que regista tudo o que se passa à sua volta muito para além do que é captado com os nossos sentidos, o nosso cérebro capta também emoções e atitudes presentes no meio e interage com estas.
O apoio que é dado à família tem que ser fortemente suportado em aspectos da relação que motivem e que transmitam confiança, nunca esquecendo que estes passam por fenómenos de crise na família necessitando de "injecções de atenção e afectos".
Ainda na área relacional é importante que se valorize a relação entre os elementos da equipa, terá que haver por parte dos líderes da equipa muita atenção no desenvolvimento da motivação, da relação entre os mesmos, reforços positivos o quanto baste bem como chamadas de atenção adequadas.

A nível da Vertente Técnica, o enfermeiro que trabalha numa UCI devrá ser capaz de pôr no terreno todos os seus conhecimentos técnicos na relação com o doente/máquina em virtude de se estar num ambiente cheio de tecnologia onde terá que haver um KnowHow no dominar das tecnologias ao serviço do Homem.

Polivalencia será pois condição fundamental para quem exerce em Medicina Intensiva, havendo um grande leque de escolha de áreas em que os seus profissionais poderão e deverão desenvolver competencias e aprofundar conhecimentos.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

A LÍNGUA COMO BARREIRA


A Região Autónoma da Madeira é visitada por pessoas dos mais diversos países: Inglaterra, Alemanha, França, Espanha, Belgica,Holanda, Suécia, Noruega, Dinamarca, Ucrania, Brasil, etc...
Deste modo torna-se imperativo que num hospital como o do Funchal os enfermeiros e outras classes profissionais sejam capazes de entender e de se fazer entender pelo menos em Inglês em prol da tão desejada qualidade de cuidados aplicada a quem directamente será beneficiado por esta.

Adoecer num país estrangeiro é complicado e mais complicado se torna se a língua fôr um obstáculo à transmissão e interpretação da informação que possa levar a um diagnóstico. Tal como diz o velho ditado: "quem não sabe é como quem não vê" e "a falar é que a gente se entende"

É frequente termos cidadãos estrangeiros na UCI. Quando sedados e curarizados o problema da comunicação não existe, passa a existir quando os doentes saem da sedação e por vezes só entendem a sua língua natal. Nesta situação entra a mímica, os gestos e outras técnicas de comunicação utilizadas na UCI.

O inglês é a língua mais utilizada, a maior parte dos elementos da equipa são capazes de se relacionar com utentes e seus familiares nessa língua no entanto há sempre aqueles que falam melhor que outros, o que para alguns familiares funciona como uma "injecção de confiança" saber que o enfermeiro X ou Y está de serviço pelo facto destes dominarem a lígua inglesa de modo serem capazes de transmitir informaçõers que sejam compreendidas pelo outro lado.

Penso que já é tempo que numa profissão como a nossa que vai buscar conhecimento a muitas outras ciências e num mundo actual cada vez mais globalizado, surgir a disciplina de Inglês nas Escolas de Enfermagem, Inglês técnico como têm por exemplo as Engenharias de modo a munir os enfermeiros com o conhecimento de determinadas palavras ou expressões usadas habitualmente em meio hospitalar num contexto de doença.

E penso também que é tempo de assumirmos que para além de Portugueses somos de igual modo Europeus com todos os direitos e deveres que esta situação acarreta.
Livre circulação de pessoas, bens e serviços? Sim muito Obrigado.
Somos Enfermeiros Portugueses e Europeus com a possibilidade de exercer em qualquer país da Europa comunitária (hoje em dia cada vez mais real este cenário). Daí a importancia deste primeiro passo ser dado pelas Escolas de Enfermagem.

Que eu saiba a definição de doente não inclui a nacionalidade, podemos todos passar a essa condição de um momento para outro independentemente da língua que falamos.

Quem sairá a ganhar com isto é o doente e todos nós poderemos passar facilmente a esta condição, não importando saber se pala frente temos um Alemão, Chinês, Ucraniano, Inglês, Françês, etc... trata-se tão sómente de uma pessoa sem saúde que está à procura da mesma e que necessita da melhor ajuda que eu lhe possa dar.


segunda-feira, 24 de setembro de 2007

QUANDO A MORTE É REAL


Muitas vezes deparamo-nos com situações em que se chegou ao fim da linha...muitas vezes a morte cerebral instalou-se irreversivelmente num dos nossos doentes, sendo que nessa altura somos confrontados com uma série de questões relativamente ao que se deve ou não fazer, numa mistura confusa de sentimentos, emoções, sensação de frustração de derrota, pena. Perguntamo-nos deve-se fazer o quê até que ocorra a paragem irreversível? Vale a pena Alimentar? Manter acesso venoso? Que vigilância e monitorização? Posiciono? Que conforto proporcionar? Que dizer à família? Proporciono a sua presença no momento da paragem cardíaca?

Todos estes pensamentos assolam-nos, vezes sem conta no nosso quotidiano, num ambiente frio de tecnologia, com alarmes estridentes a todo o instante, frases típicas, "doente em paragem - AJUDA"; "Foi-se"; "Mais uma alta celestial"; "Lá vou eu ter que avisar a família"; "Coitado era ainda tão novo"; "Alguém que me ajude a preparar o cadáver para a morgue"; "Fala o Enfermeiro S...dos Cuidados Intensivos, falo com a esposa do Sr C...? Olhe, sabe que o seu marido não se encontra muito bem? Infelizmente tenho uma muito má notícia para lhe dar";

Por vezes damos por nós a pensar em todas estas coisas invadidos por melancolia, tristeza, do quanto estamos fartos e cansados de tanto sofrimento. A hora da despedida é terrível. Não nos ensinam a lidar com estas coisas durante o curso nem ao longo da nossa vida...vamos aprendendo, tentando fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem a nós. E confesso que mesmo com muitos anos de profissão é sempre um momento de tristeza ver alguém partir e ter de dar esta notícia aos seus familiares. Acontece-me muitas vezes pôr-me no lugar daqueles que ficam a sofrer e pergunto-me "e se fosse eu a estar naquela situação?"; Por vezes têm reacções que estou convencido que também teria. Se alguém muito amado por mim partisse sem dizer adeus, sem uma despedida, sem ter tido a hipóteses de esclarecer coisas que deveriam ter sido esclarecidas, o meu coração ficaria destroçado de tanta dor de tanta tristeza e frustração, mágoa e culpa talvez. É muita mágoa, é muito sofrimento para gerir.

Mas a vida continua e este momentos de reflexão fortalecem-nos pois é sempre bom saber que mais alguém pensa e sente como eu esta ténue fronteira entre vida e morte.

PS. desculpem o desabafo, muito mais haveria para dizer mas por hoje fico por aqui, porque estou cansado, fiz noite e ainda não dormi.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

MEDICINA INTENSIVA


A Medicina Intensiva é uma área diferenciada e multidisciplinar das Ciências Médicas, que aborda especificamente a prevenção, diagnóstico e tratamento de situações de doença aguda potencialmente reversíveis, em doentes que apresentam falência de uma ou mais funções vitais, eminente(s) ou estabelecida(s). O objectivo primordial é suportar e recuperar funções vitais de molde a criar condições para tratar a doença subjacente e, por essa via, proporcionar oportunidades para uma vida com qualidade.
Para tanto, é necessário concentrar competências, saberes e tecnologias em áreas dotadas de modelos organizacionais e metodologias que as tornem capazes de cumprir aqueles objectivos. 
(E. Maull, 2008)


CONVERTENDO LITROS DE O2 EM FiO2

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